O futuro governo do Brasil deve ser mais ativo no Cone Sul e promover uma maior integração com seus vizinhos para fortalecer sua influência. Entre as questões que devem ser priorizadas pelo país na relação com os vizinhos, está o fortalecimento das instituições regionais como o Mercosul (Mercado Comum do Cone Sul) e a Unasul (União de Nações Sul-Americanas).
Analistas de países andinos acreditam que o governo brasileiro, buscando estabelecer uma posição de liderança na região, não conseguiu reduzir um desequilíbrio, especialmente comercial, que existe entre o próprio Brasil e esses países.
A cobrança dos países andinos é que não foi colocada em prática a proposta de substituição competitiva de importações, que consistiria em incrementar a industrialização dos países da região com o apoio do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Caso essa proposta fosse implementada, o Brasil deixaria de comprar de outros países aqueles produtos que poderia importar dos vizinhos.
O Brasil quer ser líder, mas não quer pagar os custos dessa liderança
Projetos de infraestrutura que poderiam ter aproximado mais o Brasil dos países andinos também acabaram ficando no papel nos últimos anos. Um deles previa a abertura de um corredor rodofluvial entre Manaus e o porto equatoriano de Manta.
O projeto foi afetado pelo distanciamento entre os governos de Lula e do equatoriano Rafael Correa após uma crise entre o Equador e a construtora Odebrecht em 2009. A empresa brasileira foi acusada de falhas na construção de uma usina hidrelétrica no país andino.
A expectativa dos equatorianos é que o projeto do corredor fluvial seja retomado durante o mandato do próximo presidente brasileiro.
Os analistas também acreditam que, apesar do avanço político das relações políticas entre Brasil e a região andina, o Brasil falhou em projetos de cooperação para estabelecer um maior controle das fronteiras.
"Se há política ineficiente por parte do Brasil é a fronteiriça. Não houve cooperação na proteção da fronteira, e isso deve ser trabalhado pelo próximo governo", afirmou o analista Carlos Romero.
Outro teste será o de consolidar "alianças energéticas", em especial com a Venezuela, principal produtor de petróleo da América do Sul, e a Bolívia, que possui a maior reserva de gás.
Expectativas com relação ao novo governo
Guillermo Holzmann, professor de ciências políticas da Universidade do Chile : « Acredito que o Brasil manterá uma posição de presença permanente na região e orientada à sua projeção mundial. O Brasil não pode descuidar da região e não pode ser líder só na região .O Brasil tem hoje forte peso no cenário mundial, e os demais países da região tendem a acompanhá-lo ».
Miguel Senra, professor de sociologia da Universidade da República, de Montevidéu, Uruguai :
« Acredito que por questões estratégicas, seja qual for o governo eleito, haverá uma intensificação da integração regional, e o Brasil sera o lider da América Latina. O papel do Brasil no Mercosul é muito importante, especialmente para os países pequenos do bloco (Uruguai e Paraguai)».
Beatriz González Bosi, professora de história da Universidade Católica de Assunção, Paraguai :
« Espero que o Mercosul ganhe importância e funcione com o novo governo brasileiro. O Paraguai é um país com muitos problemas, e o Mercosul é uma ponte fundamental para seu desenvolvimento. Mas, para isso, precisa ser mais ativo e dar maior atenção aos sócios menores ».
Eduardo Fidanza e Rosendo Fraga, consultores e analistas, Argentina :
« A relação bilateral entre Brasil e Argentina é a mais “direta” no Cone Sul. O caminho para estreitar ainda mais essa relação é superar as questões pontuais na área comercial ».
« O Brasil é o único país da América Latina com vocação para ator global. O papel do Brasil no Mercosul é muito importante, especialmente para os países pequenos do bloco ».
Eduardo Paz Rada, professor da Universidade Mayor de San Andrés, Bolivia :
« O interesse de todos é que o Brasil possa ser uma barreira capaz de frear as imposições europeias e dos Estados Unidos em acordos comerciais com a região e que ao mesmo tempo colabore com o desenvolvimento dos vizinhos ».
Socorro Ramírez, professora do Instituto de Estudos Políticos e Relações Internacionais da Universidade Nacional da Colômbia :
« O novo governo terá que aceitar negociar com os vizinhos os quais não podem ser tratados como qualquer multinacional ou país industrializado ».
Javier Biardeau, professor da Universidade Central da Venezuela :
« As desigualdades também podem ser minimizadas em um fundo de compensação que chegou a ser discutido pela Unasul (União de Nações Sul-Americanas), porém não foi desenvolvido. Este fundo deve permitir aos países mais frágeis em termos de capacidade produtiva ter acesso a projetos de desenvolvimento com créditos a juros mais baixos ».
Source : BBC Brasil